🦗 Que tipo de insetos são comestíveis? A revolução silenciosa da entomofagia

🦗 Que tipo de insetos são comestíveis? A revolução silenciosa da entomofagia

Mais do que um nicho, uma necessidade global

O conceito de insetos comestíveis, tecnicamente conhecido como entomofagia, pode soar a novidade ou, para alguns, a uma excentricidade culinária. Contudo, para grande parte da população mundial, este tipo de alimento tem sido, há séculos, uma fonte de proteína vital. Por conseguinte, com a crescente pressão sobre os recursos agrícolas tradicionais e a urgência de encontrar soluções alimentares mais sustentáveis, o interesse nos insetos comestíveis explodiu.


Ora, este artigo visa desmistificar o que se pode e o que não se pode comer no vasto reino dos insetos.

O que define um Inseto Comestível?

Apesar de existirem mais de um milhão de espécies de insetos catalogadas, apenas cerca de 2.000 são consideradas comestíveis e fazem parte da dieta tradicional de pelo menos 2 mil milhões de pessoas. É importante frisar, aliás, que nem todos os insetos são seguros para consumo humano. Portanto, tal como no caso dos cogumelos, a identificação correta é crucial.


Geralmente, os insetos comestíveis caracterizam-se pelo seu alto valor nutricional, segurança biológica quando criados em condições controladas e facilidade de criação. Em primeiro lugar, é de salientar que a segurança alimentar e a regulamentação têm sido fatores chave no seu desenvolvimento em países ocidentais.

As estrelas da entomofagia: Os insetos mais consumidos

Afinal, quais são os insetos que estão a liderar esta revolução na alimentação? De facto, a diversidade é notável, mas alguns grupos destacam-se globalmente, seja por tradição, seja por serem os mais fáceis de criar em escala industrial, como se pode constatar nos dados de produtores e reguladores:

Gafanhotos e Grilos (Ortópteros)

Os grilos e os gafanhotos são, indiscutivelmente, os embaixadores da entomofagia moderna.

  • Grilos: Primeiramente, são o inseto mais consumido a nível mundial e o mais popular no mercado ocidental de farinhas e barras proteicas. Além disso, têm um perfil nutricional excecional, sendo ricos em proteína (cerca de 60-70% de matéria seca), fibras, vitaminas B12 e minerais como o ferro e o zinco.
  • Gafanhotos: Em segundo lugar, são uma iguaria em muitos países de África e do Médio Oriente. Neste sentido, quando preparados (geralmente fritos), têm um sabor que muitos comparam a nozes tostadas.

Tenebrio Molitor (Bicho-da-farinha ou Tenébrio)

Posteriormente, o bicho-da-farinha é uma das espécies mais bem-sucedidas no que toca à criação em massa na Europa.

  • Vantagem: Com efeito, é relativamente fácil de criar e processar. Assim, é frequentemente usado inteiro (desidratado) ou transformado em farinha para panificação e snacks.
  • Nutrição:Não obstante, é rico em gorduras saudáveis e proteínas.

Larvas da Farinha e de Outros Besouros (Coleópteros)

Ora, o grupo dos besouros é o mais consumido a nível mundial em termos de número de espécies (UFSM). Isto é, as suas larvas (como as do Alphitobius diaperinus, ou larva-da-farinha-gigante) são particularmente apreciadas.

  • Sabor:Por exemplo, as larvas grandes, como as do escaravelho da palmeira, são descritas com um sabor cremoso e gorduroso, enquanto outras têm um sabor mais neutro.

Formigas e Abelhas (Himenópteros)

Finalmente, estes insetos e as suas larvas são valorizados por todo o planeta, desde os ovos de formiga (escamoles) no México, até às larvas de abelha em certas culturas asiáticas. Para além disso, as formigas são conhecidas pelo seu sabor cítrico devido ao ácido fórmico.

A perspetiva da sustentabilidade e regulamentação

A ascensão dos insetos comestíveis não é apenas uma moda, mas sim uma resposta pragmática aos desafios ambientais. De facto, a sua pegada ecológica é significativamente menor do que a da pecuária tradicional:

  • Menos Recursos: Tipicamente, os insetos necessitam de muito menos água, ração e terra para produzir a mesma quantidade de proteína.
  • Emissões de GEE: Consequentemente, emitem uma quantidade muito menor de gases com efeito de estufa (GEE).

O Enquadramento Legal em Portugal e na UE

A este respeito, a Europa, incluindo Portugal, tem vindo a formalizar a legislação sobre a entomofagia. Em particular, a DGAV (Direção-Geral de Alimentação e Veterinária) e a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) têm desempenhado um papel crucial.

Atualmente, vários insetos (como o Tenebrio molitor, Alphitobius diaperinus e Acheta domesticus – grilo doméstico) estão autorizados para venda e consumo como “Novos Alimentos” na União Europeia, após a aprovação da EFSA (DGAV). Esta aprovação, todavia, está sempre sujeita a rigorosos controlos de segurança, o que garante a qualidade para o consumidor.

Valor nutricional: Uma fonte completa

Em última análise, a popularidade dos insetos comestíveis reside na sua impressionante composição nutricional. Afinal, são “micro-reservatórios” de nutrientes:

Nutriente Benefício
Proteína Alto teor de proteína completa (com todos os aminoácidos essenciais).
Gorduras Fonte de ácidos gordos insaturados, incluindo Ómega 3 e 6.
Fibra O exoesqueleto de quitina funciona como fibra alimentar (prebiótica).
Micronutrientes Ricos em ferro, zinco, magnésio e vitaminas do complexo B (em particular a B12) (Acta Portuguesa de Nutrição).

Isto significa que, para além de serem uma alternativa sustentável, os insetos comestíveis são um superalimento.

Um futuro crocante

A questão “Que tipo de insetos são comestíveis?” leva-nos a uma resposta que abrange séculos de tradição e um futuro de inovação. Em resumo, os grilos, os tenébrios e diversas larvas são os principais candidatos a integrar a dieta ocidental.

Não obstante, a legislação europeia atualmente garante que os insetos que chegam à sua mesa são criados sob rigorosos padrões de segurança, o que permite que o consumidor encare a entomofagia não como um desafio, mas como uma oportunidade de nutrição e sustentabilidade. Portanto, o futuro da alimentação é, sem dúvida, mais pequeno, mas incrivelmente poderoso.

 

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